
Realmente, eu estou adorando essa minha fase "Book eater". Basta alguém comentar, e lá vai eu em três horas degustar novas sentenças. Hoje, pela manhã, recebi um email de um amigo falando sobre um livro de psicologia jungiana. Ok, eram oito horas da manhã! Mas, sem querer me interessei, até porque ele tem dado dicas valiosas para o blog.(Valeu Alê).
Minha relação com a psicologia jungiana não era tão legal. Isso porque em 2007, quando fui sequestrado comecei a fazer terapia pela empresa que eu trabalhava na época. Depois do incidente, eu não queria mais voltar a trabalhar e fiquei mais revoltado ainda, quando a psicóloga me disse que pela via jungiana, a explicação para o incidente era de que eu, naquela noite do sequestro, queria, de alguma maneira, me expôr a qualquer tipo de violência física e verbal.
Bom, nem preciso dizer que eu não voltei mais para a terapia. Mas fui supercial. Eu deveria é ter pesquisado mais. Hoje, longe do acontecimento e sendo mais maduro, percebo que a explicação faz algum sentido. Mas pra isso, é preciso contextualizar sobre a psicologia de Jung.
O melhor livro para começar é aquele que foi escrito para leigos, O Homem e seus Símbolos. Jung terminou essa compilação 10 dias antes de morrer, e o fez por conta de um sonho. No livro, ele acentua que o homem só se realiza através do conhecimento e a aceitação de seu inconsciente - conhecimento este que é adquirido através dos sonhos. Para ele, cada sonho é uma mensagem direta, pessoal e significativa, em que o remetente é você, e o destinatário, também, é você.
Parece complicado, mas não é tanto assim. Jung afirma que a melhor maneira para se decifrar essas mensagens é tornar-se consciente da força do inconsciente. Muitas pessoas superestimam erradamente o papel da força de vontade e julgam que nada poderá acontecer, à despeito de suas próprias decisões e intenções próprias. Mas elas precisam aprender a distinguir, cuidadosamente, entre o conteúdo intencional e o involuntário.
Conheço o caso de uma amiga próxima que sempre quer encontrar alguém para namorar. SEMPRE! O consciente dela está sempre a procura de uma nova paixão, até aí tudo bem. O problema se dá quando o inconsciente também SEMPRE está a procura de uma nova paixão. Quando o lado consciente acha uma pessoa bacana, o inconsciente logo sabota essa relação. Ela trata essa nova pessoa mal, não dá bola e chega até trair. É o inconsciente, sem que ela perceba, procurando uma nova paixão, porque assim que a nova vira presente, logo surge a sede por mais uma.
Eu mesmo já estive numa situação assim e fui questionado por uma amiga que considero brilhante. Eu estava reclamando, que não queria mais ficar doente - passei por um período de saúde bem debilitado - e então ela me respondeu com uma pergunta: Você sabe que muito açucar faz mal? E eu respondi, sim! E ela, retrucou: Então porque tem quatro colheres de açucar nesse copo de suco? A resposta podia ser complicada, mas parece simples: eu estava me auto-sabotando. Culpa, acho que sim, mas os motivos são menos importantes nessa discussão.
O fato é de que ler Jung traz a tona o fato de que nossa dia-a-dia que parece tão disciplinado e cheio de racionalidade, não é tão certinho e sem interfêrencias como imaginamos. Nosso cotidiano, ignora os adornos de fantasia, tanto na linguagem, como nos pensamentos, mas eles vão parar no nosso inconsciente. E infelizmente, muitas vezes, para nos proteger de nós mesmos, o consciente se usa da arma do esquecimento para nos proteger da crua e dura verdade. O ato de esquecer é um processo normal, em que certos pensamentos conscientes perdem energia específica, devido a um desvio da nossa atenção. É como um holofote que foca no mais interessante, mas que deixa outra area mergulhada na escuridão.
O esquecer pode até causar histeria coletiva. Hoje, nem tanto, porque a modernidade mitiga esse tipo de comportamento. Basta olhar os grandes shows da década de 90. Quando Madonna, ou Michael Jackson entravam no palco, o público ia ao delírio, curtia cada momento como se fosse o último. O holofote estava ali, só ali, o que te fazia esquecer de TODO o resto, isso era histeria. Hoje, quando algum cantor entra no palco, o que se vê é um mar de cameras fotográficas de alta-resolução, não há o momento do esquecimento tão histérico que vá fazer você lembrar para sempre daquele show. Isso foi amenizado por um pen-drive de 2GB (rs).
Como bem disse Jung, "O homem contemporâneo não consegue perceber que, apesar de toda sua racionalização e toda sua eficiência continua possuído por forças 'além' do seu controle. Seus deuses e demônios não desapareceram, tem apenas nomes diferentes".
E sobre o porquê de eu achar que a teoria do sequestro é válida, aqui vai a resposta. Os dois caras que me abordaram entraram no meu carro, um pela frente, o outro pela porta lateral traseira, quando eu parei num farol. Eu poderia ter trancado o carro, mas eu, conscientemente, não tranquei. Não havia carro nenhuma minha frente, eu poderia ter avançado o sinal, mas eu não avancei. E meu consciente me deu todas essas dicas, mas infelizmente, o que meu inconsciente queria foi mais forte, e fiz tudo ao contrário. Resultado: 12 horas nas mãos de bandidos e uma costela quebrada.
Ao invés de terminar com o famoso, Freud explica, terminaremos com...
JUNG EXPLICA!
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