Volta ao Mundo: Amsterdã - Parte 1

Depois de um ano e meio em Amsterdã, fico aqui pensando qual é a melhor maneira de conhecer este lugar maravilhoso, yet "perigoso", que é a capital da Holanda.

Antes de mais nada, acho que vale a pena começar com a seguinte divisão: turista x morador.

• Turista vai a coffeeshop fumar maconha e vai ao Red Light District olhar/pagar as "garotas"da vitrine. Morador não é mais viciado que no resto do mundo só porque aqui é liberado. Nem em space cake. E não, as vovós não cultivam maconha no jardim para consumo próprio. Ah, e cuidado com as vitrines: tirar foto vai lhe render no mínimo um banho de água imprópria da bacia que por vários motivos a garota mantém no quarto de 2,5m por 2,5m. Isso se não rolar o cafetão correndo atrás de você com revólver na mão.
• Turista anda de bicicleta, entra no trilho do bonde com o pneu e cai no meio da praça. Morador move-se como um só corpo em total sintonia.
• Turista bebe Heineken, vai à fábrica da cerveja e fala: é boa mesmo! Morador bebe La Chouffe, que é da vizinha Bélgica, uma cerveja encorpada. E bebe Heineken também, afinal, o que seria do Brasil sem a Kaiser?
• Turista se encanta com os canais, tira foto, compra souvenir, entope a Kalverstraat (compare-a com a Oscar Freire, mais ou menos). Morador reclama do turista bloqueando canais, pedindo pra tirar foto e entupindo a Kalverstraat.
• Turista fica hospedado em hotel ou hostel no centro da cidade. Morador não aguenta um ano no centro, de tanto turista que tem. Ou, quando aguenta, paga a bagatela de 1.500 euros por mês num apartamento studio/1 quarto só pra ficar bem localizado.
• Turista come Kroket do FEBOloja de comida - você tira sua comida da parede! e acha uma delícia. Morador concorda com o próprio holandês quando diz que a comida tradicional (batatas batidas com legumes, uma sopa de tomate ou ervilha e, raramente, carne de panela) é ruim.
• Turista acha engraçado ouvir música em holandês, principalmente porque pra gente que é do Brasil parece marchinha de Carnaval. Holandês só gosta da própria música quando está bêbado.

Agora que a maioria das verdades já foi dita, vamos falar de Amsterdã. A cidade foi fundada a séculos atrás, sendo entreposto comercial, e por isso os holandeses são conhecidos como sovinas, negociadores, traders, etc. Não é que eles sejam como os turcos, pechinchando, mas eles são adeptos da política do preço justo. Não peça desconto, é quase ofensivo por aqui.

Devido a esse passado cultural, a Holanda é hoje sede de empresas multinacionais como Philips, Shell, ABN AMRO (comprado e despedaçado em 2007 - o banco foi originado das Companhias das Índias Orientais, das aulas de história lembra?), ING (patrocinador da Renault na Formula 1), Azko Nobel (farmaceutica) e outras. E o país é rico, social e economicamente desenvolvido. Falta gente qualificada pra trabalhar por aqui. Não precisa nem falar holandês nas empresas grandes, apesar que agora, com a recessão, é menor a chance de conseguir um trabalho por estas bandas.

A cultura é extremamente tolerante, mas não confunda tolerância com aceitação: você pode fazer o que quiser, e existe respeito a sua individualidade, mas não invada nunca o espaço do outro. A cultura é individualista. O grupo gay por exemplo goza de liberdade aqui, mas nem por isso se fala tão abertamente sobre fantasias ou coisas que deixam outras pessoas embaraçadas - Amsterdã não te julga.

Aprender holandês é difícil, é preciso dedicar umas boas horinhas pra isso e colocar pra praticar. O engraçado é que todo mundo fala inglês, então se você fala inglês, é mais fácil se virar, mas pior para aprender. Um amigo que chegou aqui na mesma época só falando português aprendeu o idioma muito mais rápido, porque foi obrigado a usá-lo.

Aguardem meu próximo post sobre o que fazer em Amsterdam e sobre o dia da Rainha (30 de Abril).

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